13/4/08

Re: aprender a leer y escribir - pedido de explicação

Agradeço sua resposta, Rosa Maria. É o mesmo debate, como você demonstra.

O interessante é que no Brasil os pós-modernos é que atacam o construtivismo (como é o caso de Tomaz Tadeu). Pessoalmente, não gosto do termo “construtivismo” porque se presta para muitas interpretações e confusões. Quem disseminou o termo no Brasil foram escolas particulares de vanguarda, nos anos de ditadura brasileira. Muitos professores universitários e de escolas públicas, por enfrentarem muito controle nas instâncias públicas do período, criaram escolas particulares de natureza experimental. Daí se disseminou a palavra construtivismo que, em muitos casos, se confundiu com espontaneísmo (em que crianças definiam o conteúdo a ser estudado). Foi uma apropriação equivocada, mais próxima das sugestões de Rousseau que dos construtivistas.

Como freireano, considero um imenso retrocesso confundir este conceito como sendo neoliberal. Uma imensa confusão e rebaixamento do debate teórico. A questão central é a articulação de várias escolas de pensamento (fenomenológica, neo - marxista, vygoskiana e até piagetiana). Os estudos da neurologia contemporâneos (como os de Antonio Damásio e outros) indicam o erro profundo das teorias de alfabetização silábicas (ou fônico). Ocorre que os anti - construtivistas também citam experiências da neuro - imagem funcional. As lógicas são muito distintas: foco no significado ou apenas nos fonemas e grafemas. No Brasil, foi adotado o método alfabético - silábico, que nem era fônico, nem construtivista.

De qualquer maneira, os anti-construtivistas e anti-sociointeracionistas consideram que a alfabetização como uma mera aquisição de tecnologia (e não uma compreensão sobre o mundo e o significado dos símbolos). Em outras palavras, um sistema de escrita e as técnicas para seu uso. E sugerem uma divisão com letramento (nós, freireanos, não fazemos esta distinção, já que consideramos que alfabetizar é ingressar no mundo do letramento, pela compreensão do mundo) e letramento como desenvolvimento de competências para o uso dessa tecnologia em práticas sociais.

Nós, freireanos, entendemos que uma criança começa a ler quando começa a compreender o significado dos “desenhos” (a palavra escrita) que está visualizando. Ao vincular o significado ao que é escrito, se apropria aos poucos do significante e começa a perceber que muitas palavras começam com formas aproximadas de “desenho”. Se apropria do “mundo e da escrita” ao mesmo tempo. Não se trata de uma mera aquisição de técnica, mas do próprio letramento.

Esta é a diferença central.

Rudá Ricci